Breve comentário sobre SALMO 63
1 - Escuta, Deus, minha voz que se queixa. [diferente do
clamor, dos gritos, a queixa se faz sussurrando, cochichando ao ouvido].
Protege minha vida do terror do inimigo. [porque tenho medo dos meus inimigos]
2 - Protege-me dos planos que os maus fazem contra mim; livra-me
dos bandos de homens perversos, [gangues de profissionais da maldade e da crueldade].
3 - Os maus afiam a língua como punhal e apontam como
flechas as suas palavras cheias de veneno, disparando-as sem temor. [sem respeito nem
consideração, destruindo os bons com calúnias covardes].
4 – Eles agem depressa para espalhar as suas mentiras
vergonhosas e destroem os bons com calúnias covardes. [espalham fake news para assassinar reputações]
5 – Eles se animam uns aos outros para fazer o mal. [montam seus
esquemas];
Falam dos lugares onde vão montar as armadilhas e pensam que
ninguém pode vê-los [não serão detectados].
6 – Fazem seus planos cheios de maldade e dizem [celebram,
comemoram]: “planejamos um crime perfeito” [ninguém nos pegará]
O coração e a mente do ser humano são um mistério.
7. Porém, Deus atirará suas flechas contra eles, e de
repente, ficarão feridos.
Deus os destruirá por causa das suas palavras [dos seus esquemas].
8 - Quem passar por essa gente maligna vai balançar a
cabeça, caçoando da maldade deles. [porque na hora de contar vantagem teve gente que ouviu e
eles foram denunciados, caíram na armadilha que fizeram para outros].
10 – A alegria daqueles que obedecem ao Senhor Deus vem
dele; é no Senhor que eles encontram segurança. E todos lhe darão glória.
O salmo 64 é uma súplica com todos os elementos de um
triângulo típico das orações de palavras sussurradas, ditas em voz que é quase
um gemido, um pedido balbuciado por alguém que está morrendo de medo.
Eis o triângulo: eu, os inimigos e Deus.
O orante confessa abertamente o seu medo e declara-se
apavorado diante de um inimigo cujas táticas ele conhece muito bem.
O quadro mostra uma batalha com armas muito bem preparadas e
mortíferas: palavras de calúnia e difamação (punhais e flechas), como lemos em
Salmo 57.5; 140.4 e Jeremias 9.7.
O medo da vítima diante dos ataques que lhe estão sendo
planejados fica evidente na forma escolhida para sua oração: súplica (queixa ou
sussurro). Diante do perigo, da agressão montada pelos inimigos, o salmista
contra-ataca com uma oração quase silenciosa. Aterrorizado com a audaciosa
operação de ataque ele contra-ataca com sutileza, baixando o tom enquanto ainda
não sabe qual será a reação de Deus diante da situação denunciada em forma de
súplica.
O verso 5 diz o que os bandidos estão fazendo:
“Eles se animam uns aos outros para fazer o mal; falam dos
lugares onde vão colocar as suas armadilhas, e pensam que ninguém pode vê-los”.
A motivação e autoconfiança deles causa constrangimento ao
salmista ao registrar essa engenharia maligna no verso 6:
“Planejamos um crime perfeito”. Pura empolgação do inferno.
Porém, para quem está sofrendo e tem consciência das ameaças é uma sensação de
torpor, desespero e iminência do caos.
Davi, a esta altura da batalha, toma uma atitude que virá a ser decisiva para a reviravolta repentina que é a única saída para alguém que resolveu confiar em Deus, apesar de todas as circunstâncias se mostrarem desfavoráveis.
Aquele que estava tão amedrontado com os esquemas montados pelos inimigos a ponto de cochichar uma oração pedindo socorro, agora, resolve zerar o volume da voz. Mateus 6.7 registra palavras de Jesus: “...porque eles pensam que por muito falar serão ouvidos”!
Falar muito, falar demais pode ser sintoma indicativo de
perturbação.
Algo comum aos períodos de estresse onde perdemos a noção até de como orar. A esta altura é
hora de um coffee break , uma pausa
para o cafezinho, uma água, um suco, uma broa, uma massa folheada, brevidade, strudel de maçã (tem que ser receita original alemã). Se estiver em Portugal peça
pastel de Belém. Ou, se na França, peça Macaron o doce da rainha Catarina de
Mèdici.
Depois dessa pausa para limpar a mente de tanto medo e constatação que só os inimigos estavam se dando bem, eis que, de repente, Deus resolve agir.
Salmo 64 verso 7 – “Mas, Deus atira contra eles uma flecha; de repente estão feridos. 8 – Assim, serão levados a tropeçar; a própria língua se voltará contra eles; 9 – Todas as pessoas temerão, e anunciarão as obras de Deus, e entenderão o que ele faz.”
Enquanto eu não alcançar a revelação (entendimento) do propósito de Deus ao permitir o levante do
inimigo contra mim, deixo de ser edificado e de usufruir da vitória que é
conhecer, com clareza, a vontade de Deus para minha vida.
O final do Salmo e de mais esse drama do poeta, ganha as
cores vivas de uma apoteose. Verso 10 – O justo se alegra no SENHOR e nele
confia; e se gloriam todos os retos de coração”.
Recapitulando:
Jamais esconda de Deus os seus medos. Vale a pena ter um
olho conferindo as tramas do inimigo, sem neuras. Isso lhe dá argumentos para
orar. Pode ser uma boa ideia adotar uma tática oposta à escolhida pelo inimigo.
Se ele se expõe para atacar, oculte-se para contra-atacar. Finalmente, em meio
aos entreveros da batalha, se derramou a sua queixa (oração silenciosa,
balbuciada) perante o SENHOR, permita-se um coffee
brake, uma pausa para reorganizar a mente. Enquanto você estiver em stand by Deus vai agir.
______________________________________________________Elias
Vieira