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Usando a linguagem popular dos salmos para orar

 

Tenho procurado, nos últimos meses, memorizar alguns salmos e fazer deles a minha oração em certas horas do dia.

A linguagem dos salmos é popular, muito fácil de entender, por isso, eu me identifico tanto com suas palavras que vão se transformando em oração a cada dia. Preciso dizer que o livro dos Salmos é reconhecido como o livro de oração do povo de Deus. Atanásio, bispo de Alexandria, disse que “a maior parte das Escrituras falam a nós, os salmos falam por nós”. A linguagem dos salmos é mais pessoal e expõe de forma natural nossas emoções e sentimentos.

Os salmos me ajudam a ser mais honesto com Deus, porque não escondem nada. Tristezas, frustrações, fracassos, raiva por ter que esperar, grandes alegrias e profundas depressões estão em cada frase dos salmos.

Você já prestou a atenção em como nossas orações são construídas, muitas vezes, com uma linguagem totalmente artificial, com o propósito de impressionar os outros ou a Deus?

Tem gente que ora escolhendo cada palavra. E aquela entonação de voz, estilo locutor de rádio? Que oração ridícula, que perda de tempo.  Que blindagem é essa para impedir que a oração revele o que, verdadeiramente, estou sentindo naquele momento?

Mas, se eu usar os salmos como linguagem de oração, de imediato virão à tona minhas emoções e sentimentos. Porque nos salmos eu encontro todos os tipos de sentimentos e emoções expostos com sinceridade. Sentimentos, como solidão, indignação ou raiva, tristeza ou depressão, alegria, gratidão e lamento, estão presentes nessas orações e me ensinam a reconhecer nelas as minhas raivas, rebeldias e revoltas por ver outros se dando bem enquanto eu estou numa fila sem-fim, chorando enquanto aguardo que uma gota caia do céu.

A oração é a linguagem da alma.

E, é exatamente por isso que a oração cria o ambiente onde podemos lidar com nossos sentimentos. É na experiência da oração que podemos melhor compreender a relação de Deus com os fatos e circunstâncias que provocam esses sentimentos que estão me corroendo como ácido.

Claro que eu sei que Deus é a razão primeira e última de tudo o que acontece comigo e com o mundo à minha volta.

Porém, mais do que resolver os problemas que me sufocam, preciso aprender a responder à forma como Deus quer tratar esses meus problemas, percebe?

O Salmo 139 foi um dos primeiros salmos que memorizei.

É uma oração feita a partir da solidão, um sentimento que envolve a todos nós. Posso tentar evitar a solidão, fugir dela, mas jamais posso negar a existência da solidão. Não me refiro apenas à solidão física, da ausência de amigos, da perda de pessoas queridas, mas da solidão de não ser compreendido.

Nossos pais não nos compreendem, marido/mulher também não. Até que eles se esforçam, mas nunca irão nos entender plenamente. Nos sentimos solitários na família, no trabalho, na igreja... Estamos cercados de pessoas queridas, que se angustiam muitas vezes, tentando nos agradar, mas somente Deus pode preencher nossos desejos mais profundos de compreensão e aceitação.

Somente Deus me conhece e me entende completamente. 

Não existem segredos para ele. Não porque eu tenha contado tudo. Mas, porque Ele, antecipadamente já leu e fez um print dos meus pensamentos, mapeou os meus caminhos, preferências, sonhos, palavras ditas e mesmo aquelas que eu ainda não disse. Meus anseios mais profundos, medos e todas as incertezas -- ele conhece tudo. Mais do que isso, ele me ama, protege e me guia. Meditar nessas coisas me leva a reconhecer a profundidade dos pensamentos e propósitos divinos.

Diante de Deus não existe nada que ele não saiba antes. É por causa deste conhecimento prévio que Deus tem que Agostinho ora:

“Ó Deus, faça com que eu te conheça, meu conhecedor. Faça com que eu te conheça como de ti sou conhecido. Ó Virtude de minha alma, mergulha em mim, faça minha alma parecida contigo, para que ela seja impregnada de ti, a ponto de ficar sem mancha nem ruga. Esta é a esperança com que falo, e nesta esperança me alegro, quando desfruto de tua santa alegria… E, para ti, Senhor, que conheces o abismo da consciência humana, o que poderia haver de oculto/escondido em mim, mesmo que eu não te quisesse confessar? O Senhor pode se esconder de mim, mas, como eu poderia fugir ou me esconder de ti, meu Deus?


O medo de não ser compreendido e aceito acaba impedindo a gente de abrir o coração em relação ao outro. Justo nessa hora o conhecimento pleno, total e absoluto que Deus tem de cada um de nós é a ferramenta poderosa que quebra as algemas do medo e nos abre para o amor e para os relacionamentos saudáveis. Como está na cara que eu nunca serei plenamente compreendido, a não ser por Deus, emprestar as palavras do salmo 139 para nossa oração é algo que dá certo, demais da conta!